quarta-feira, 26 de março de 2008

Um GNR e a tua sogra estão presos num edifício em chamas. Só tens tempo para salvar um dos dois.

O que fazes? Vais jantar fora ou vais ao cinema?

domingo, 16 de março de 2008

Re-Visão Sobre o Suicídio




Muitas vezes dou por mim a perguntar-me sobre as razões que levam alguém a proceder à sua definitiva auto-destruição. Não no sentido amplo, não num qualquer sentido de matriz metafórica, mas sim no verdadeiro sentido da expressão Auto-Destruição. Por tal refiro-me ao Suicídio.

A palavra suicídio tem na sua raíz etimológica as palavras sui = si mesmo e caedes = acto de matar Foi utilizada primeiramente por Desfontaines e tem por definição morte intencional auto-inflingida, isto é, quando alguém por qualquer razão decide pôr termo à sua própria vida. O que de resto é sabido por toda a gente.

As tendências suicidas existem em todas as comunidades, dentro destas existem em qualquer das classes, desde a populis mais miserável até à socialite "créme de la créme". Se por um lado podemos antever as razões que levam alguém a quem tudo é negado, a matar-se, não raros são igualmente os casos de suicídio de pessoas que aparentemente teriam tudo: riqueza, fama, glória, reconhecimento. O que os levará a isso?

Bom, muito difícil será para mim colocar-me no lugar de uma celebridade.

Mas como ser vivo que sou posso tentar entender as razões de tal desprezo para com o bem principal, não só do homem mas do próprio Planeta Terra: a Vida.

Existe água para que exista vida, o planeta detém altas concentrações de oxigénio para que exista vida, existe toda uma cadeia extremamente complexa para que a vida seja possível.
De todo esse enquadramento perfeito faz parte a morte. A morte labora para o bem da vida, o contrário não faz qualquer sentido por não necessitarmos de nada para estar mortos, porém precisamos de uma complexidade de elementos que ultrapassa de forma colossal as capacidades do maior génio humano vivo ou morto, para que possamos permanecer vivos.
Também aquilo (porque desprovido de vida) que não fora concebido, necessita apenas da inexistência para continuar a ser nada. Por outro lado precisa de uma extensa variedade de - e vou manter o meu agnosticismo aqui - "coincidências" para nascer. Entendo que devo usar o acaso para descrever os patamares necessários ao nascimento de algum ser vivo porque a coincidência é a pasta de arquivo que nós (ou pelo menos alguns de nós) seres falantes, pensantes e possuidores do último grito em matéria de massa encefálica, usamos para aprisionar aquilo que não entendemos.

Ignoro a complexidade natural do que me rodeia e se disser que nada acontece por acaso, não fico mais esclarecido. No máximo irei assim anexar o que não entendo a algo que não compreendo, isto pode levar-me a uma encruzilhada de caminhos redondos e circunferentes que sempre me trarão de volta ao início, a lado algum, ao desconhecimento... à ignorância, não no sentido perjurativo mas no sentido literal de continuar sem saber o que acontece realmente.

No respeitante à Vida, tudo são meras hipóteses. Uma delas é a de não fazer mesmo qualquer sentido. Sim, porque... quem disse que tudo tem que ter um sentido? Só a humanidade é que procura lógica em tudo, só é lógico aquilo que o Homem entende como lógico. Isto é muito falível porque a compreensão da vida poderá não ser compatível com as limitações da lógica humana.
Apesar disto penso que mesmo assim devemos tentar entender ou pelo menos tentar enquadrar num cérebro tão limitado (não, não me estou a referir ao josé castelo branco em minúsculas) como é o humano quando comparado ao Todo que nos circunda. Afinal é tudo o que podemos fazer não é?

De acordo com o que penso - e se aplicasse tudo isto à minha pessoa - o mais certo seria este texto terminar aqui, pois nunca chegarei a nenhuma conclusão. Poderia usar de uma atitude passiva visto que a árvore da deambulação jamais dará frutos integralmente doces, apagar estas linhas, deixar de pensar. Mas em toda essa cadeia de auto-anulação o mais certo seria acabar este fim de tarde a ruminar, num qualquer baldio circundante, à sombra de melancólicos maciços arbóreos. Algo nada entediante refira-se, pois seria certamente alvo de incisivas gargalhadas por parte dos transeuntes.

Absurdos à parte, tudo existe em prol da vida. Até mesmo a morte.

É comum dizer-se que para morrer basta estar vivo, já o contrário parece ser impossível e por tal extremamente erróneo. "Para viver basta estar morto" - soa automáticamente mal e nem um orador de poesia Bocagiana conseguiria adequar um sentido minimamente cabal a esta expressão.
A verdade é que a vida pode descartar-nos a qualquer momento. Observo que o nascimento é algo muito dificultado quando comparado com a morte. Esta surge-nos como um "orgão" negativo que não gera vida (não directamente), apenas destrói mas permite a continuação do ciclo vital de todo o planeta. Para isso actua com mão pesada sobre nós com toda a frieza característica da natureza no que diz respeito às condicionantes da sua própria continuidade.
Há que perceber que para que todos os seres vivos disponham de harmonia (e de sentimentos como o carinho de uma mãe para com o seu filho), é necessário que os alicerces de tudo sejam inabaláveis. Para que exista vida é mesmo crucial existir a morte como agente descartante de seres vivos, pois no limite o planeta não aumenta de tamanho, a água não estica e se ainda hoje dependessemos dos pães gerados pelo milagre da multiplicação de J.C. milhões de gerações teriam sido naturalmente bloqueadas. (Jesus parece ter-nos amado até deixarmos de ser novidade... terá sido mesmo criado à nossa imagem...)

Pelo referido, uma das formas de morrer, (cingindo-me agora mais ao que diz respeito ao ser humano e tendo presente que me estava quase a esquecer do tema do post) é o Suicídio.

O suicídio bem como as suas tendências, é algo inerente a todos nós. Não representando a espécie humana, acredito que quase toda a gente já tenha tido pelo menos uma vez na vida pensamentos suicidas. Porquê? Não faço ideia de qual seja a verdadeira razão, no entanto acho que essa foi mais uma possibilidade que a vida colocou no nosso cpu orgânico para nos auto-descartarmos. Podemos sair da vida por vontade própria, deixamos de consumir recursos importantes para gerações vindouras, damos lugar a mais um.

É importante referir que geralmente as pessoas com tendências suicidas mais acentuadas são aquelas que perderam o interesse pela vida, pelo mundo, pessoas às quais as palavras evolução, desenvolvimento, futuro nada dizem. Pessoas que se fartam totalmente de tudo, que cultivam um total desinteresse pelo esforço de todo ciclo natural de tudo o que nos rodeia. A vida parece desinteressar-se também por essas pessoas ligando o botão da auto-destruição como que a dizer: "podes sair... porque assim não dá".

Imaginem-se à porta de um centro comercial a observar um caótico parque de estacionamento, imaginem-se em pleno parque natural de peneda gerês a observar única e exclusivamente um saco de detritos domésticos. Metafóricamente, um suicida vive tão cego por depressões, problemas de todo o tipo e tão embrulhado num péssimismo exagerado que é como um iman de novas contrariedades. Assim esquece tudo o resto que existe de bom na vida bem como toda uma imensidão de factores que existem para promover o nosso bem-estar. Segue pela escada rolante oposta não por ignorar a outra mesmo ali ao lado, tão mais cómoda e adequada, mas por se esquecer dela.

O suicida tem medo de exprimir aquilo que o afecta por medo ou vergonha, por pensar que ninguém o vai ouvir, para ele jamais lhe surgirão alternativas ao que já pensou sobre certa situação. Muito por culpa das pessoas que o rodeiam e pela crueldade com que por vezes tratam certos assuntos, a atitude jocosa sobre um determinado problema que afecta outrém e que para quem ouve não é problema algum, a malícia de quem o ouve com toda a atenção chegando mesmo até a opinar de forma que parece sincera e que depois vai tagarelar ou mesmo tecer mesquinhices sobre um problema grave que afecta outrém de forma ímpar e singular.

O suicida fecha-se em copas porque presume que não vai ser compreendido.

Presume mal pois assim como existe muita gente mal intencionada e que finge que nos ouve só para saber como nos atingir, há sempre alguém que nos compreende e que nos ajuda de forma real e efectiva. Situações há em que quem parece mais amigo (eventualmente melhor ouvinte) está longe de o ser na verdade e são vulgarmente as pessoas que nos parecem mais abstractas que nos ouvem e que realmente se colocam no nosso lugar. Basta tirar os olhos do chão e olhar em volta.

Noutros casos, especificamente nos casos de suicídio entre os mais jovens, é comum que esse acto tenha como fundamento a intenção de fazer com que os pais se sintam assassinos dos filhos. O adolescente deixa uma forma de o fazer saber, por exemplo com uma carta de despedida.

No seio de uma familia singularizada internamente em que filhos e pais vivem nas laterais de um autêntico bloco de gelo, tão elevado como intransponível e que congela laços de afectividade vitais para o ser humano, o adolescente pode viver num estado de isolamento que a sua mente pode não entender. É muito fácil um adolescente que vive na solidão querer atingir os pais, pode até ser para chamar a atenção mas quando se está disposto a dar a vida para esse efeito, o suicídio pode acontecer.

O suicidio ocorre quando a solidão, a falta de bens materiais, a tristeza, a depressão, o desinteresse e a desilusão ofuscam um céu estrelado, um sol poente, uma cascata de água, o guincho estridente de um gavião...


...e se puséssemos a crítica de lado e nos ajudássemos todos uns aos outros?
Qual é a razão de fundo de alguém rebaixar o próximo com o intuito de ter um aspecto mais elevado?
Não seria mais digno crescer por si?

...e se parássemos com as lamentações e olhássemos à nossa volta para ver toda uma imensidão de coisas que são a festa da vida?
Será certo deixar de acreditar na humanidade apenas porque conhecemos alguns maus exemplos?

Sim a sociedade é muito injusta e o suicida também!