quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Grandezas e Manias



Ontem (terça) tive o prazer de observar em Lisboa algo que me chamou particularmente à atenção: uma Limousine.

Chama sempre à atenção ver aquele portento sobre rodas (seria Lincoln? Penso que sim), a circular devagarinho ao início da noite pela avenida da Índia, com os seus vidros fumados, tez creme, corpulência salsichenta (pelo seu comprimento imenso e arredondado) e luzes. Muitas luzes.

Fiquei muito contente por ter tido oportunidade de observar uma limousine, não por ter sido a primeira que vi (que decerto não foi), mas porque adoro limousines. O facto de não ser rico não me impede de gostar ou deixar de gostar deste tipo de bens, muito pelo contrário, considero mesmo que uma das razões que me levam a sentir certa atracção visual por estes carros centra-se incisivamente na minha escassez de numerário.

Elas até são bonitas, feitas para quem compra, e para pôr um brilhozito nos olhos de quem gosta de as ver passar. Se calhar é um sinal de futilidade da minha parte, mas eu não entendo assim.

"Ah e tal para que é que eu queria uma limousine? Isso é mania das grandezas!"

Talvez seja, embora nada exista de novo nisso.
Largos milhares de pessoas esvaziam a carteira à sexta feira para se habilitarem a um sonho que podia erigir pilares de tantos outros sonhos, e dele não abdicam.
Muito mais do que no Totoloto, investe-se o que se tem e o que não se tem no Euromilhões. Imediatamemte podemos vislumbrar a razão de ser de tal escolha: O Prémio é maior!

O jogo é mais caro, as probabilidades de ganhar são menores, mas o prémio é muito superior ao que se poderia eventualmente auferir num vitorioso palpite tótólótico. Então, temos presente a mesma mania das grandezas: Porque raio vou jogar para 700 mil euros no Totoloto se no Euromilhões posso ganhar 30 milhões?

"Ah se me saísse só 5 mil euros já me chegava"
No Totobola, jogo que dos três mencionados é o que oferece valores mais baixos, muito pouca gente joga. Porque razão? Não gostam de bola e não sabem dar palpites sobre os resultados. Ok, até entendia se no Totoloto e no Euromilhões existisse alguma temática de fundo que fosse de alguma forma perceptível ou que existisse alguma espécie de fio condutor que sugerisse resultados possíveis. O Totobola não é tão aleatório como os restantes, existe um pano de fundo, existe sugestão e precedente que, aliados a um elevado grau de felicidade momentânea, podem oferecer um prémio.

Sim, a limousine...
A certa altura, na sua curta passagem diante dos meus olhos (que calibravam a minha imensa satisfação, que se quer discreta), oiço um barulho, oiço algo a chocalhar lá de dentro. Atónito com tal acontecimento, que abalou de forma automática a minha social-indigência grosseira, pensei: - Que foi aquilo? Correia de distribuição?? (risos) - Nada disso! Estava a haver uma festança lá dentro. O que estava para ali a chocalhar eram pratos e copos. Pelo barulho que ouvi deve ter caído tudo. Garrafa de champanhe e balde de gelo incluídos.

Conclúo que terão sido derrubados por um de dois factores: um relevo mais acentuado do asfalto, ou uma extremidade mais insolente, naturalmente acoplada a um dos intervenientes no festim.

Na primeira hipótese estamos perante a tradicional mania das grandezas do poder local. Há que culpabilizar a Câmara Municipal de Lisboa por dar prioridade a obras megalómanas, esquecendo a "raia miúda" que são os pequenos arranjos na estrada.

Na segunda hipótese, tendo um dos sujeitos naturalmente afecta a si uma extremidade
tão imensa como capaz de derrubar garrafas de champanhe, e escolhendo um carro daqueles, por favor alguém lhe tire a mania... à grandeza.

...e eu que apenas gosto de ver as limousines e nem jogo...



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