Após a notícia do correio da manha que dá conta dos
montantes milionários extorquidos aos condutores portugueses pelas polícias em
escassos meses, (uns por conduzirem alcoolizados, outros por conduzirem sem
carta, outros por excesso de velocidade, outros por falta de inspecção, imposto
de circulação, seguro, outros ainda por falta de assunto), somos sensitivamente iluminados pelo novo conceito de prioridade “transítica”
estabelecido tanto pela PlayStation Portable como pela Guns n’ Roses.
A prioridade este verão já não vai ser os acessos às
auto-estradas e itinerários principais, nem as pontes, nem as próprias
auto-estradas e itinerários principais. Não vão ser as SCUTs por terem deixado
de o ser.
Esta nova ideia luminosa faz todo o sentido na medida em que
nas auto-estradas e ips deste país já existem polícias colocados
estrategicamente em cada ponto de entrada e saída. As portagens (automáticas
ou não) já nos penalizam por cada vez que as utilizamos, então para quê
continuar a insistir com o policiamento? Não faz sentido.
Já toda a gente é multada por utilizar uma auto-estrada,
sendo mesmo esta a forma mais cabal que o estado encontra para nos dizer “Toma
lá e embrulha! não sei que mal fizeste pelo caminho mas alguma deves ter feito,
portanto pagas!”
Como aquele senhor que dizia “um homem quando chega a casa
tem que bater sempre na mulher! Mesmo que não saiba porque lhe bate, ela de
certeza que sabe!”
É um pouco assim. Presume-se que o condutor “fez alguma”,
ou assume-se que o condutor não pagou os impostos para poder disfrutar
livremente daquela via, ou então é mesmo roubar à descarada.
Com estes “auto-multadores” que trabalham por atacado,
24horas por dia, 365 dias por ano, ninguém precisa de polícias. Ainda assim, se
uma banca rende na praça, a outra rende no mercado.
Então agora vão fazer as auto-stop onde? R: à porta das
nossas casas. Isso mesmo.
Lá vão eles com todos os meios precisos e imprecisos, todos
os gadgets do nível “hái-téque” mais internacionalmente reconhecidos, radares e
cameras ocultamente visíveis, (não é por
estarem dissimuladas que deixam de nos ser mostradas, senão não teria o estilo
Bollywood adequado a um conjunto de guardas enfadonhos) para a estrada nacional
e quem sabe para a sua rua.
Os alvos preferenciais serão eternamente as rotundas, por
experiência própria o digo. Em termos estatísticos posso afirmar que em 70% das
vezes em que fui mandado parar por estes James Bonds Bollywoodescos foi à
entrada ou à saída de uma rotunda.
Ao circular na rotunda,” insurgem-se-me” de frente com um gesto de quem “abana o borralho para a
sardinha”.
É nesse momento que
me sinto uma verdadeira brasa.
Não é na discoteca
nem na praia, nem no café, nem nos passeios pelo parque. É na operação-stop
mesmo. Sou a brasa que o estado chega à
sua sardinha. Isto claro com o abanico a puxar por mim, pois de outra forma,
depressa seria cinza que não assa coisa nenhuma.
Como se livrar destes abanicos fosforescentes nas rotundas?
Já experimentei fazer a rotunda pela via de dentro e algumas vezes funcionou
outras nem por isso, já experimentei colar-me ao condutor da frente como se fosse um peixe piloto, mas também
já me saiu o plano furado pois o Sr. AgUente mandou o condutor por mim perseguido acalmar a
passarinha e lá me foi abanar para a berma.
Ocorre-me a ideia de circular pela rotunda no sentido dos
ponteiros do relógio numa tentativa de apanhar o boi pelas costas. Talvez um
dia faça a experiência.
Outra coutada de caça é aquela
imediatamente a jusante de uma bomba de gasolina. Isto porquê? Ora, o Sr.
Condutor abastece o carro, quem sabe toma um cafézito (quiçá com cheirinho),
vai embora e quem é que salta detrás de um calhau para um priceless “Zás”?
A incandescência estuporífera emanada na sua plenitude pelos “encosta-aquis”, pois claro.
Uma forma de evitar estes já não-sei-que-mais-lhes-chamar que tem tido a sua taxa de sucesso é colar-se a uma carrinha. De preferência velha, branca e se levar carga ainda melhor. Agarre-se a ela com unhas e dentes, nunca a ultrapasse, mantenha-se encostadinho ao eixo da via, não tenha a curiosidade de espreitar para ver a "festa do tostão", siga sem olhar para os malabaristas de massas luminosas que se vão acercando de si e pode ser que se safe. As chances de passar despercebido duplicam se os condutores a montante perderem a paciência, desprazendo-o com uma ultrapassagem a si e à carrinha. Não se aborreça com isso. É natural que encostem logo ali à frente e a carrinha também.
Com tudo isto, estamos a ficar sem alternativas em todos os campos.
O importante para o nosso sistema político neste momento, é roubar dinheiro a todos. Nas estradas pagamos pela sua correcta utilização, mas pagamos ainda mais pela sua má utilização.
Pagamos sempre.
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